Entrevista: Mônica Braga, tradutora e copidesque
jmbrasil: Como você começou a trabalhar como copidesque?
Mônica Braga: Eu trabalhava como tradutora para editoras e para a Drei Marc. Em 1998, a Editora Campus me pediu para copidescar, logo em seguida veio a Rocco. Na Drei Marc, em 2003, eles começaram a procurar copidesques, eu já traduzia para lá, conversei com o Leite, disse que queria diversificar um pouco o trabalho, e foi assim que comecei.
jmbrasil: Quais erros são mais recorrentes nas traduções?
Mônica Braga: Os falsos cognatos são coisas que costumam confundir bastante (eventually, actually), regências verbais e nominais também são comuns. Gírias, expressões idiomáticas e jargões às vezes também podem ser um problema, pois quem não conhece tende a traduzir ao pé-da-letra. Um exemplo clássico, que já está até entrando para nosso vocabulário, é o “state of the art”. Mas cada tradutor tem sua dificuldade própria, e em geral não há erros comuns a todos.
jmbrasil: O timing ruim prejudica o trabalho de copidescagem?
Mônica Braga: Muito. O trabalho de copidescagem de legendas engloba todos os aspectos da legendagem; nossos ouvidos têm que estar atentos ao que é dito, enquanto os olhos, ao que está escrito. Se não há sincronia entre os dois, fica complicado. Timing ruim e spotting ruim tiram a fluência.
jmbrasil: Como os copidesques recebem por seu trabalho?
Mônica Braga: Por tempo. Na maioria das vezes, por faixas de minutagem: 1 a 15 minutos/16 a 30 minutos/30 a 60… e por aí vai.
jmbrasil: De que dicionários você gosta mais?
Mônica Braga: Eu acho que dicionário é questão de hábito, mas há alguns mais completos do que outros. Para dúvidas de português, estou acostumada com o Aurélio, mas uso também o Houaiss, se não ficar satisfeita com a definição. Quanto às outras línguas, eu nunca uso dicionário bilíngüe; nem tenho. Para o inglês, gosto do Webster’s New World Dictionary eletrônico e do American Heritage. Para o francês, só uso o Robert eletrônico, é ótimo, muito completo, com exemplos etc. Para o italiano, uso o Vocabolario della Lingua Italiana, também eletrônico. Não trabalho com dicionários de papel há algum tempo.
jmbrasil: Qual software você usa para legendar?
Mônica Braga: Para copidescar, Word e Power VCR-II. Para traduzir e legendar, estou usando o Subtitle Workshop.
jmbrasil: Lembra de alguma tradução engraçada?
Mônica Braga: Há, existem várias. Uma que me marcou bastante foi um documentário que vi no GNT, uma entrevista com a mulher de um diretor de cinema francês famoso. A entrevistadora perguntou se o marido dava a ela “carte blanche” para decorar a casa, e a entrevistada respondeu que ele dava “carte blanche” e “carte bleue”. A tradução ficou “carta-branca” e “carta azul”. Mas “Carte Bleue”, na França, é um cartão de crédito.
jmbrasil: Do que você gosta e do que não gosta no mercado de legendagem?
Mônica Braga: Eu gosto muito do tipo de trabalho, do ambiente. As pessoas são todas muito simpáticas, disponíveis, sem as formalidades que reinam nas empresas, de um modo geral. Poder fazer meu horário e trabalhar em casa também é maravilhoso. Gosto até da correria para entregar certos trabalhos, porque funciono bem sob pressão. Não gosto dos preços praticados no mercado da tradução em geral, e me refiro tanto à legendagem quanto ao mercado editorial. Nosso trabalho não é dos mais valorizados, mas grande parcela da culpa deve ser atribuída aos próprios tradutores e ao nosso órgão de classe. O Sintra (Sindicato dos Tradutores) é totalmente inexpressivo, a profissão não é regulamentada, e há tradutores cobrando até R$ 5 por lauda.
Written by legendar on January 15th, 2006 with
no comments.
Read more articles on Entrevistas.
- [+] Digg: Feature this article
- [+] Del.icio.us: Bookmark this article
- [+] Furl: Bookmark this article